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Que escola é esta?

O descomo que permeia a realidade e o realismo eterniza-se numa inexplicável e latente atmosfera quando inebriada por doses fortes de um bom senso ironicamente descompromissado. É como parte fundamental de estudo para aqueles que desejam aprofundar-se sobre o trabalho do ator: teatro do absurdo, teatro da crueldade podem parecer bem distantes do nosso, mas acreditem, eu os achei zuando por palcos inóspitos.

Em razão da II edição do Intercâmbio Teatral Estudantil, proposta da trupe de teatro Artes Ribeirinhas, é pertinente comentar o que foi representado durante toda uma semana em que a mostra ficou em cartaz no Theatro Sete de Setembro.

A proposta é das melhores já desenvolvidas neste Estado, na capital alagoana duas mostras iguais já ocorriam há considerável tempo, uma delas era promoção do Sated-Al (Sindicato dos Artistas e Técnicos de Diversão), que a promoveu até 2007.

A Companhia de Artes Ribeirinhas constituída há pouco mais de três anos é a grande revelação para o teatro local, tem em seu currículo espetáculos de peso como “Sonhos de uma noite de verão” do inglês Shakespeare, ando por “Pluft, O fanstaminha” da mineira Maria Clara Machado. Interessante frisar que tal companhia surgiu exatamente de um evento como este – intercâmbio de teatro-escola, em proporções inferiores obviamente, e é a razão mais firme que eles têm para levantarem a bandeira da Mostra, que de fato merece todos os aplausos. A proposta é inquestionavelmente positiva – para fins de entretenimento e não somente, pois desde os bancos escolares estes alunos aprendem a freqüentar teatros; isto educa e sociabiliza platéias.

Mas nem tudo está no seu devido lugar, o que para alguns é razão de orgulho afinal de contas o trabalho com teatro não é dos mais contemplativos e às vezes nos faz cair na tão desejada autoconfiança; para outros serve como combustível de uma carreira infrene e daí o ator a a produzir tudo por exatamente querer tudo. Na vez das escolas, seria elegante poupá-las uma vez que elas não recebem a atenção necessária para produzir teatro ainda que amador, os produtos por elas apresentados em boa parte do festival pode ser considerado abaixo da média, e aqui abro um parêntese para explicitar uma máxima real: grandes teatros não frutos de grandes recursos, às vezes com o mínimo de inteligência, de agilidade e de leitura reluz uma valiosa contribuição ao ato – Pede-se então, a atenção dos professores que acompanham os grupos em eventos como este.

Em pouco mais de três anos a Cia. realizadora da mostra fez estrear dois espetáculos, ambos com estilos totalmente diferenciados, o que para o teatro de quem vê, ou seja, a platéia propicia uma incerteza de quais são as prioridades do grupo. Qual linha deverá seguir, se é que devera seguir alguma? É provável que o tempo se encarregue de desfazer todos os encantos, bem como todas as frustrações até que se prove a qualidade e a importância desta unidade teatral.

Na noite do dia 21 de novembro, a trupe apresentou á platéia penendense sua mais recente montagem, estreou a peça “ELE ME DISSE QUE ELA FALOU” tragicomédia de linguagem bastante pretensiosa contando com grande parte do elenco da Cia. em cena, neste, os arteiros mostraram toda flexibilidade na escolha do texto, por sinal bastante infeliz, (e digo isto não porque não goste de comédia, entendo comédias e não apelações ), o que pode parecer como primeiro sinal de um desconforto interno, que somente eles poderão resolver.

Em “Ele me disse que ela falou” tudo é muito falho, desde o texto em si até a última concepção da sonoplastia. É um espetáculo com sérios problemas, ao que pese a minha dúvida: Ele está pronto? Ou ainda a por uma concepção, pelo processo de montagem? No caso da primeira afirmação ser a real são perceptíveis as falhas. É um texto mal escrito, mal encenado, mal dirigido e mal interpretado principalmente, e que diferentemente das encenações anteriores ficou claro nesta, o amadorismo destes arteiros. Com ares de mega-produção chega a ser decepcionante. Mesmo com todos os esforços em segurar a peça do começo ao fim, tudo na concepção da direção era muito cru, sem a sensibilidade e presteza necessárias para lapidar personagens, a direção não soube dosar os cacos, os exageros, as excentricidades; no enredo do espetáculo que contem uma infinidade de personagens homossexuais, estes foram encenados de forma totalmente caricatas, é possível que estes atores nunca tenham lido, ou vivido situações semelhantes às das personagens, daí, caberia um laboratório – a rua é a indicação. Jovens que se propõem a fazer teatro e não lêem teatro, não pesquisam teatro e não vêem teatro é mais absurdo do que a escolha deste texto tenebroso, é inconcebível. E mais do que isto é ver num discurso final totalmente alienado, a indisposição à critica e à reações de grupos, enfim, tudo seria muito nobre se a proposta fosse apenas fazer, sem a necessidade de querer “causar” , sem grandes pretensões. Existem idéias seculares de teatro profissional e de teatro amador, um estar diretamente ligado à forma e às razões para que se faça teatro, o outro vai além; capta a qualidade da encenação e principalmente a idéia do fazer teatral, sem grandes preocupações, sem nenhuma lapidação, apenas por gosto e feição.

A pergunta “Que escola é esta?” foi feita por uma pessoa da platéia no momento em que se dava a representação da peça, é uma ‘deixa’ para que o grupo reflita sobre as ações artísticas, as pretensões e as conjunturas que dão à Artes Ribeirinhas o titulo de revelação do teatro local.
E mais uma vez: ”cuidado com Dionísio”…