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Negócios/Economia

Novas ciências e tecnologias serão aplicadas à produção do mel de abelha

Para Lenilda Austrilino, o mapeamento das abelhas alagoanas é fundamental

A versatilidade do mel chama a atenção da diretora de Políticas de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Secti), Lenilda Austrilino. Durante uma semana, ela participou do 41º Congresso Internacional de Apicultura, em Paris, e retornou a Alagoas com amplo planejamento de ações voltadas para a cultura do mel. A profissionalização do segmento eliminou o comércio feito por atravessadores e os produtos, sobretudo a própolis vermelha conquistam novos mercados, inclusive internacional.

Dentre as diversas tecnologias vistas nos paineis do evento, a coordenadora pretende reaplicar o estudo apibotânico. Esse método é responsável por identificar as peculiaridades e os principais componentes das abelhas de cada região. Para isso, ela já selecionou um grupo gestor exclusivo a fim de analisar a identidade geográfica das abelhas do Litoral e do Sertão.

“Nossa intenção é saber identificar quando uma abelha é de Alagoas ou não. Essa reaplicação nos possibilitará a avançar ainda mais nos nossos estudos com o mel e a abelha”, ressalta Lenilda Austrilino. De acordo com ela, o outro aspecto de relevância para ser implantado nos projetos de ciência na apicultura é aprender a destacar o comportamento, aprendizado e saber como está a saúde das abelhas.

Além da rica produção de mel no Sertão de Alagoas, a Secti pretende cultivar e extrair das abelhas do Litoral Sul e Norte a própolis vermelha, originária da planta rabo de bugio, encontrada nos manguezais litorâneos. Apostando no crescimento dessa produção e a fim de agregar valor aos novos produtos, o Banco do Nordeste (BNB) e o governo de Alagoas vão investir R$ 700 mil em estudos para a execução de projetos na linha de cosmésticos e fitoterápicos .

Segundo a coordenadora Lenilda Austrilino, a ideia é promover o incentivo à fabricação de shampoos, pomadas para queimaduras e sabonetes artesanais, entre outros cosmésticos, criados a partir da própolis vermelha. “Esse é um setor bastante promissor e queremos torná-lo autossustentável. Assim como o mel está andando com suas próprias pernas, vamos tentar fazer o mesmo com a própolis”, frisa.

Um dos primeiros os para essa produção artesanal dos provinientes da própolis já foi dado. Segundo ela, a Secti vai elaborar estudos ligados ao processo de fabricação de cosmésticos e produtos fitoterápicos, por meio de uma incubadora piloto no Estado. Após a criação do processo, os estudiosos selecionados farão análise para saber se é possível realizar uma boa escala industrial da própolis vermelha para a comercialização de seus derivados.

Por meio do Arranjo Produtivo Local (APL) da Apicultura, a atividade apícola já é destaque no Sertão de Alagoas. Produtores de mel no município de Pão de Açúcar já sobrevivem do próprio cultivo. Eles são responsáveis pelo envase do mel em sachês e a sua venda em mercadinhos e escolas da cidade. Juntos, estes produtores estão diretamente ligados ao setor econômico do Estado.

“Estudamos, analisamos e depois amos nossas técnicas para os produtores interessados. Acredito que assim como a cana-de-açucar sobrevive em Alagoas, o mel tem tudo para ser mais um produto de potencial e de grande referência dentro e fora do Estado”, conclui a coordenadora.

De Alagoas para países asiáticos

Nos últimos dois anos, o segmento do mel conseguiu eliminar a comercialização feita por meio de atravessadores. Com a certificação do Serviço de Inspeção Federal (SIF), a negociação do produto se tornou livre no Brasil. Com o investimento na própolis vermelha no litoral de Alagoas, a produção de mel praticamente dobrou. Enquanto em 2006 a Cooperativa de Mel (Coopmel) do Estado fazia uma colheita de 60 toneladas de mel, hoje, eles apuram mais de 140.

Um dos maiores avanços da matéria-prima apícola é a valorização do produto, proporcionando a ele um valor justo e rentável. Segundo o presidente da Coopmel, Reginaldo Lira, um

Neno Canuto

quilo da própolis vermelha extraída pela abelha custa R$ 550. “Cerca de 80 produtores do litoral norte sobrevivem deste produto. Isso já é um grande avanço econômico para a nossa região, que é coberta por mangues”, frisa.

Esse não é o único mérito da própolis vermelha. A produção é crescente e tem despertado o interesse de empresários de fora de Alagoas, a exemplo da empresa mineira Natucentro Própolis. A planta de origem leguminosa é rica em flavonoides e sua resina, sugada pela abelha, ajuda no controle hormonal do corpo feminino, além de combater o envelhecimento precoce e de ser anticancerígena.

Responsável pela qualidade da própolis, a difusão de novas tecnologias de produção e beneficiamento despertou a curiosidade do proprietário da Natucentro, César Ramos, em ver de perto essa matéria-prima alagoana. Em parceria com a empresa japonesa API Company, César exporta a nossa riqueza para países asiáticos. Atualmente, a negociação é diretamente com o Japão, mas sua pretensão é chegar à China em poucos meses.

“O Japão valoriza a própolis vermelha, assim como o brasileiro valoriza o perfume francês. Lá a API Company fabrica cápsulas gelatinosas, bebidas enriquecidas em vitamina e sprays, tudo a preço de luxo”, frisa o mineiro César Ramos. Segundo ele, a venda de um vridro com 90 cápsulas gelatinosas da própolis custa de U$ 90 a U$ 100 para o consumidor comum.

Diferente dos produtos de subsistência, a própolis vermelha é supervalorizada nos países asiáticos. Com esse mercado externo em alta, o empresário afirma que um bom profissional que trabalha de dentro das fábricas de produtos da própolis vermelha no Japão, ganha em média, U$ 3.600 ao mês. “Vamos tentar levar a matéria-prima alagoana de atividade sustentável chegar com forte impacto também na Europa”, estima César Ramos.