Nos últimos anos, o design de interiores tem sido profundamente influenciado por movimentos arquitetônicos que privilegiam a simplicidade, a conexão com a natureza e a funcionalidade. Nesse cenário, dois estilos se destacam pela harmonia que proporcionam aos ambientes: a arquitetura escandinava e a japonesa.
Cada um com sua identidade, esses estilos vêm inspirando o design contemporâneo de banheiros e, especialmente, de banheiras. A busca por bem-estar, minimalismo e contemplação encontra nessas referências a base para novas abordagens que ressignificam o banho como experiência sensorial e estética.
A fusão do escandinavo com o japonês — frequentemente chamada de Japandi — tem se consolidado como uma tendência global no design. Essa união revela como culturas tão distintas podem convergir em valores como a simplicidade intencional, a valorização dos materiais naturais e a ênfase em espaços funcionais, calmos e acolhedores. Aplicada ao universo das banheiras, essa filosofia redefine o modo como esses itens são concebidos, trazendo uma nova perspectiva para além da função de higiene: a de refúgio e autocuidado.
Minimalismo funcional: o coração do design escandinavo
A arquitetura escandinava surgiu no início do século XX como uma resposta às necessidades das regiões nórdicas. Com invernos longos e escassez de luz natural, os ambientes aram a priorizar a luminosidade, o conforto térmico e a funcionalidade. Isso se traduziu em espaços de linhas simples, paleta de cores claras, uso extensivo de madeira e integração entre ambientes internos e a natureza.
No design de banheiras, essa herança escandinava se manifesta na busca por formas limpas, ausência de excessos decorativos e preocupação com o conforto. Banheiras que seguem essa linha costumam apresentar linhas orgânicas, cores neutras como branco, bege ou cinza claro, e materiais naturais ou que remetem à natureza, como madeira e pedras claras.
Esse tipo de abordagem tem transformado a maneira como vemos uma banheira simples, por exemplo. Antes associada a algo meramente utilitário, agora ela pode assumir um papel de destaque estético e sensorial no banheiro, desde que sua forma e materialidade estejam em harmonia com os princípios escandinavos. Ela não precisa chamar atenção: sua presença silenciosa e elegante já diz tudo.
O ritual do banho e a estética japonesa
Já a arquitetura japonesa parte de um princípio ancestral: a harmonia com o ambiente e o respeito à impermanência das coisas. Inspirada no zen-budismo e em conceitos como o wabi-sabi — que celebra a beleza do imperfeito e do incompleto —, essa estética valoriza o essencial, o natural e o artesanal.
No contexto das banheiras, essa influência japonesa resgata o banho como ritual. O Japão tem uma cultura milenar de banhos quentes, tanto em casas quanto em banhos públicos (onsens), onde o ato de se banhar é visto como prática de purificação, relaxamento e contemplação.
Banheiras que seguem essa linha costumam ser mais profundas, com foco na imersão total do corpo e no conforto térmico. Um exemplo dessa tradição é o ofurô externo, que reproduz fielmente a experiência japonesa de relaxamento ao ar livre, cercado por elementos naturais como pedras, plantas e madeira. Ele incorpora não só o design, mas também o espírito do espaço zen: introspectivo, acolhedor e silencioso.
Japandi: a fusão entre o norte e o oriente
A convergência entre o design escandinavo e o japonês não é apenas estética, mas também filosófica. Ambos valorizam o desapego ao excesso, o uso consciente do espaço e a escolha de materiais que evoquem aconchego e naturalidade. Essa união dá origem ao estilo Japandi, que se tornou referência em banheiros contemporâneos.
Em banheiras, o Japandi se traduz por peças que equilibram forma e função, com ergonomia pensada para o relaxamento e acabamentos que transmitem uma sensação tátil agradável. Superfícies suaves, curvas generosas e cores terrosas ou neutras são comuns. Materiais como bambu, freijó, pedra vulcânica e mármore claro compõem o cenário ideal para esse estilo.
Uma banheira redonda, por exemplo, encaixa-se perfeitamente nesse universo. Sua geometria suave remete à fluidez da água e favorece a socialização, quando disposta em ambientes integrados. Além disso, sua forma circular representa o ciclo da vida e o conceito japonês de continuidade, ao mesmo tempo que se alinha ao desejo escandinavo de espaços orgânicos e funcionais.
Iluminação natural e integração com o ambiente
Outro ponto em comum entre o design escandinavo e japonês é a valorização da luz natural. Grandes janelas, claraboias e aberturas estratégicas são elementos essenciais para criar ambientes acolhedores e dinâmicos. Isso também afeta a forma como banheiras são posicionadas nos projetos mais contemporâneos.
Em residências que adotam essa filosofia, é comum que as banheiras estejam voltadas para jardins internos, pátios zen ou paisagens externas. Essa integração fortalece o vínculo entre o momento do banho e a natureza, ampliando a sensação de bem-estar. A presença de plantas ao redor da banheira, pedras naturais no chão e o uso de biombos ou divisórias de madeira clara complementam a experiência.
Para banheiros de casal, a inspiração pode resultar em uma banheira de hidromassagem dupla com design discreto e elegante, que incorpora todos os princípios do Japandi: ergonomia compartilhada, estética sutil e foco na conexão humana. Esse tipo de banheira vai além do luxo: ela propõe uma nova forma de estar junto, de relaxar em dupla em um espaço que convida ao silêncio e à presença.
Menos é mais: uma filosofia de bem-estar
O que torna a fusão entre os estilos escandinavo e japonês tão poderosa é o fato de ambos se afastarem da ostentação. Em um mundo saturado de estímulos, esses estilos propõem um retorno ao essencial. E isso tem tudo a ver com os novos hábitos de consumo e com a busca contemporânea por equilíbrio.
No caso das banheiras, essa tendência se manifesta em escolhas mais conscientes: optar por modelos duráveis, com design atemporal e que favoreçam o bem-estar físico e mental. Mais do que objetos de desejo, as banheiras tornam-se ferramentas de cuidado, introspecção e regeneração.
Essa filosofia impacta desde o desenho do produto até sua inserção no ambiente. Um banheiro inspirado no Japandi não precisa de muitos elementos para ser impactante: basta uma banheira bem posicionada, iluminação suave e materiais que evoquem a natureza. Tudo isso cria um espaço propício para pausas verdadeiras no dia a dia — algo que se tornou essencial nos tempos modernos.
O design do futuro é sensorial
Ao observarmos como os estilos escandinavo e japonês influenciam o design de banheiras, percebemos que estamos diante de uma mudança mais profunda. Trata-se de um novo olhar sobre o cotidiano, que valoriza o tempo de qualidade, a conexão com o corpo e o espaço como extensão do nosso estado emocional.
Nesse sentido, as banheiras deixam de ser apenas um item de luxo para se tornarem protagonistas de um estilo de vida mais atento e sensível. Elas traduzem uma estética que não se impõe, mas que acolhe. Que não grita, mas convida ao silêncio. Que não decora, mas transforma.
A inspiração na arquitetura escandinava e japonesa não é, portanto, apenas uma questão de tendência visual — é uma escolha por um modo de viver mais consciente, em que cada elemento do ambiente colabora para a harmonia entre corpo, mente e espaço.