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A jóia do Velho Chico

Há 150 anos, o Imperador D. Pedro II, no período de 14 a 18.10.1859, a bordo do vapor Pirajá, singrando as águas caudalosas do majestoso e lendário “Velho Chico”, empreendia uma viagem inédita e histórica, visitando, no lado alagoano, várias localidades ribeirinhas do circuito Piaçabuçu/Piranhas. Esta região pitoresca, dotada de uma natureza exuberante e rico patrimônio histórico, tão bem decantada pelo augusto monarca, também ganharia notabilidade pela grande vocação musical. Obviamente, que a cidade de Traipu é uma das expoentes dessa tradicional escola do Baixo São Francisco em disseminar a “Arte de Carlos Gomes”.

A tradição musical de Traipu remonta à segunda metade do século XIX, época de estrutura econômica frágil e do “coronelismo”. Motivado pela esperança da juventude de uma vida mais digna através do oficio musical, da necessidade da banda de música para alegrar as festas públicas e pela fé e tradição religiosa do povo traipuense, o ensino da música se firmaria na comunidade. Não demorou muito para que surgissem as primeiras agremiações musicais, que possivelmente foram precursoras da atual Lira Traipuense. No ano de 1886 era fundada a Sociedade Club Doméstico Musical Guarany, que teve como primeiro presidente o Sr. Manoel Firmino Menezes Matos. Desponta também nesse período outra corporação antiga: a União Traipuense Musical.

Os primórdios históricos da música em Traipu têm como referencial o musicista José Leopoldino de Barros. Nascido na cidade em 4 de janeiro de 1881 e falecido em 1912, aprendeu música com um telegrafista e musicista, Lino Ferreira Lima, aprofundando os conhecimentos musicais posteriormente na capital baiana. Tomou-se exímio executante de violino, bombardino e outros instrumentos, tendo ficado bastante conhecido pelos relevantes trabalhos prestados à frente de uma das bandas existentes à época. Outros disseminadores da “Arte de Carlos Gomes” na comunidade foram os mestres Vieira e Hermínio.

Embora o movimento musical já se fizesse intenso, a Igreja, através de seus representantes paroquianos, viria a exercer importante papel na transformação da comunidade traipuense em promissor centro musical. Graças ao grande incentivo do padre Alfredo Silva, que ou pela Paróquia de Nossa Senhora do Ó, de março/1911 a maio/1949, o ensino da música ganhou um impulso considerável. Dentre os discípulos do aludido pároco, merecem citação a Professora Mariazinha Duarte, D. Angelita, o Sr. Onofre Bispo, responsável pela formação de um coral sacro orquestrado, e Ranulfo Carmo.

Com a alcunha de “Nô Morcego”, o mestre Ranulfo Carmo se destacou como professor, compositor, exímio músico e regente, com agem em bandas militares da Bahia, Sergipe e Alagoas. Sua importância é salientada porque possibilitou a formação de um grande número de músicos numa fase que o movimento musical estava bastante fragmentado. Foi o primeiro professor da escola de música José Leopoldino de Barros, criada em 14 de Julho de 1946, na então gestão do Prefeito Benedito de Freitas.

Todavia, foi o mestre Nelson Palmeira que teve a imagem mais rotulada à banda Lira Traipuense. De estilo ortodoxo, foi por muito tempo o regente da corporação, cargo que ocupou com abnegação e austeridade, até a sua mudança para a cidade de Arapiraca, onde instalou a banda local, que hoje leva seu nome. O velho mestre ficaria imortalizado, ainda, por um feliz acaso. Uma das glórias eruditas do país, o eminente regente traipuense Florentino Dias, fundador e titular da orquestra sinfônica do Rio de Janeiro, dentre outras daquela capital, foi seu discípulo.

A partir daí, começa o ciclo do maestro Antônio Basílio no comando da Lira Traipuense, que perdura até hoje. Aluno do mestre Ranulfo Carmo, exímio trompetista e profissional perfeccionista, mantendo uma equipe mesclada de musicistas experientes com jovens talentosos, foi o grande responsável pela tradicional boa performance da garbosa e elegante agremiação traipuense, mérito que muito se deve, também, ao seu parceiro e eventual substituto, Nelson Souza, grande músico, instrutor e arranjador.

Dos regentes da escola traipuense que tiveram destaque em outros estados, além do erudito Florentino Dias, merecem menção: Benome (1º Batalhão de Guardas RJ) – Aníbal Palmeira (Polícia Militar DF) – Ivo Pacheco (Exército Salvador), Paulo César Amorim (Esquadra da Marinha – RJ) – José Gerônimo ( Polícia Militar SE). De igual modo, são alvo de referência os geniais instrumentistas Capitão José Henrique (bombardino) e Adiel Mota (clarinetista).

Galeria de músicos: clarinetas: Adiel Mota – Luiz Lucarino – João Ribeiro do Nascimento Alfredo Oliveira Silva – Eudes Mota – Ranulfo Carmo – João Canuto – Nelson Palmeira – Ismerino da Alzira; requintas: Felix Tomé – Pedro Basílio; flauta: Benome; trompetes: Antônio Basílio – Renato Melo Silva – Antônio Andrade – Paquinha – Jorge Luiz da Hora – José Cavalcante – Antônio Lúcio – Toinho da Noêmia- Nilton Souza; trombones: Geraldo Camilo – Eduardo Cocorote – Aníbal Mota – Nenzinho Alfaiate – Ivo Pacheco – Adelmo André – Manoel Rodrigues; saxofone alto: Pedro Basílio – Manoel Basílio – Antônio Epifânio – Antônio Basílio Neto (Toinho) – Janderson Teixeira – Chumbinho; saxofone tenor: Benigno Mota – Jarbas Melo – Manoel Carvalho – Benedito Alencar; bombardinos: Nelson Souza – Capitão José Henrique – José Basílio – Gervásio Palmeira; trompas: Messias dos Santos – Eanes Silva – contrabaixos: Palmeirinha Mota – Luiz da Margarida – José Gerônimo – Antônio Melo – José Marques (José Bozó) – Manoel Messias – Luiz Galvão (José Cabeceira); bombo: Francisco dos Santos (Chico Pimenta) – tarol: Givaldo Melo – José de Ouro; pratos: Alfredo Melo (Jegue).